Considerada uma das tecnologias mais disruptivas desde o advento da Internet, o blockchain deverá movimentar cerca de 1 trilhão de dólares somente neste ano, mais de 15 vezes o valor movimentado em 2016. E isso apenas no âmbito das criptomoedas, cujos negócios diários ultrapassam a casa de 2 bilhões de dólares, segundo estudo recente da Juniper Ressearch.

No entanto, a utilização generalizada do blockchain no Brasil não é apenas uma questão de tempo, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes). “Sua adoção não será em ritmo disruptivo; será lenta e gradual – e virá quando demonstrar sua maturidade lá fora”, descreve o documento que foi distribuído ao público durante a Abes Software Conference 2017, na segunda-feira (18), em São Paulo.

Entre as iniciativas baseadas nessa tecnologia ao longo deste ano, a entidade destaca aplicações com enfoque na agilidade de validação transacional entre múltiplos atores: “Desafios regulatórios e de compliance são imensos no Brasil; benefícios devem surgir com controles contratuais, redução (compartilhamento) de riscos e geração de documentos (históricos) legais”.

Eu, banqueiro

O diretor de operações da HiPay, empresa francesa de meio de pagamento, e de outros empreendimentos no mundo digital, o líbano-franco-brasileiro Abdallah Hitti é também um entusiasta do blockchain. Idealizador do primeiro banco do mundo sem agências, o Cortal (vendido ao BNP Paribas Group), criado na década de 1990, quando “nem se falava em fintech”, o empresário representa 11 empresas na França de programas de segurança para pagamentos na Internet.

Em sua palestra no evento da Abes, Hitti abordou o papel das pessoas em sua relação com o dinheiro num futuro próximo, a partir da popularização das carteiras digitais: “Cada um de nós será banqueiro de si mesmo. O futuro é o instant payment”.

Como exemplo da modalidade de pagamento baseada no blockchain, o empresário apresentou uma de suas mais recentes apostas tecnológicas: o Quick Bit, plataforma online de compra e venda de bitcoins, que, de olho na IoT, futuramente também pretende endereçar pagamentos realizados automaticamente entre objetos – já chamado de “Pagamento das Coisas” (PoT).

Esse é um mercado que sinaliza grande crescimento. Um levantamento recente da Frost & Sullivan estima que, apenas na América Latina, haverá cerca de 2,5 bilhões de dispositivos conectados até 2025 – ou 3,5 dispositivos por pessoa. Por sua vez, em nível global, o Gartner prevê 8,4 bilhões somente neste ano.

E os bancos, como ficam?

Aos poucos, os bancos também estão estudando formas de aproveitar o blockchain. De acordo com o estudo Infosys Finacle, que entrevistou 100 líderes empresariais e tecnológicos de 75 instituições financeiras ao redor do mundo, o investimento médio do setor em projetos de blockchain em 2017 deverá ser de cerca de 1 milhão de dólares.

“Os bancos têm por hábito esperar uma ideia dar certo. Nenhum deles vai abrir mão do blockchain. Simplesmente estão esperando o momento certo de adotar para, em seguida, trabalhar em moedas associadas ao modelo”, diz Abdallah Hitti.

Em agosto, por exemplo, seis tradicionais instituições – entre elas, Barclays, Credit Suisse e HSBC – se juntaram ao UBS para criar um projeto de liquidação de dinheiro digital com blockchain, cujo sistema deve ser lançado até o fim de 2018.

Já no Brasil, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) formou um grupo de trabalho, do qual participam instituições como Banco Central, Banco do Brasil e Itaú Unibanco, para discutir os efeitos dessa tecnologia no mercado financeiro e em suas aplicações para aperfeiçoar tanto os produtos quanto os serviços bancários.

“Em serviços financeiros, a inovação é uma decisão de cada um de nós de respeitar três ‘enes’: ‘Não vai dar certo’, ‘não vai funcionar’, ‘ninguém vai usar’. Quando você tem uma ideia e descobre esses três ‘enes’, é que tem algo bom dentro dela. (…) Foi assim que começou o blockchain: ninguém falava sobre isso e, agora, todo mundo está tratando do assunto”, completou Hitti.

Fonte: ComputerWorld