Quando se trata de investimento, a Amazon.com não precisa mais parar para tomar fôlego. E isso a está transformando numa rival ainda mais imbatível para o varejo físico.

A gigante americana do comércio eletrônico registrou lucros insignificantes em seus 19 anos como empresa de capital aberto, uma vez que enveredou por um caminho de investimentos quase ilimitados. A Amazon injetou dinheiro na expansão de seus armazéns e infraestrutura de entrega e na entrada em novos mercados, como alimentos, música, vídeo on-line e, mais recentemente, vestuário.

Anteriormente, a Amazon preferiu fazer uma pausa nos investimentos em um ou outro trimestre. Isso tinha o efeito de garantir ao mercado que a empresa poderia se tornar imediatamente lucrativa, se decidisse parar de investir.

Mas, graças aos lucros crescentes de seu negócio de serviços de computação em nuvem, a Amazon não precisa mais dessas pausas. A nova realidade pode explicar a agonia cada vez maior dos varejistas, principalmente de roupas, depois de um trimestre que se mostrou catastrófico para eles.

O Amazon Web Services, como a unidade de serviços na nuvem é conhecida, alcançou uma margem operacional de 23,5% no primeiro trimestre, ante 1,8% do segmento de varejo da empresa. E Wall Street prevê uma série ininterrupta de lucros trimestrais, com o lucro líquido devendo mais que quadruplicar neste ano comparado com 2015, puxado pelos serviços na nuvem.

O escudo protetor da nuvem dá cobertura para a Amazon mergulhar em novos projetos em um ritmo ainda mais rápido que no passado. E o vestuário está entre seus focos recentes.

Em fevereiro, a Amazon lançou pelo menos sete marcas próprias de roupas com nomes como Lark & Ro, North Eleven e Franklin Tailored. Ainda não está claro quanto das vendas de roupa da Amazon vem dessas marcas. Ainda assim, ela já é a segunda maior varejista de roupas nos Estados Unidos, depois do Wal-Mart Stores, com cerca de 7% do mercado, segundo o Morgan Stanley. O banco americano estima que a participação da Amazon atinja 19% em 2020.

Como ficou visível no resultado das varejistas americanas de roupa no primeiro trimestre, o crescimento da Amazon está fazendo vítimas. A Macy’s registrou seu pior resultado trimestral de vendas desde a recessão. Vendas e lucros também caíram naKohl’s e na Nordstrom. A Target, que fica com 19% da receita total com venda de roupas nos EUA, divulgou uma previsão de lucros magra em meio à queda nas vendas.

O Wal-Mart, que responde por apenas 7% das vendas no setor de vestuário, foi um caso excepcional no trimestre. As vendas de suas lojas existentes há pelo menos um ano subiram 1% em relação ao mesmo primeiro trimestre de 2015.

O desastre levou alguns a cogitar uma união com a Amazon, em vez de tentar derrotá-la. O diretor-presidente da Gap, Art Peck, disse na quarta-feira passada que sua empresa, que no primeiro trimestre registrou um recuo de 5% no faturamento das lojas existentes há pelo menos um ano, está disposta a vender produtos na plataforma digital.

Mas nem todas as lojas de vestuário foram prejudicadas pela entrada da Amazon no setor. Entre aquelas que registraram resultados fortes estão a gigante dos descontos TJX, cujo modelo tende a atrair consumidores para suas lojas, e as lojas para adolescentes Urban Outfitters e American Eagle Outfitters, ambas surfando uma onda de popularidade nessa instável faixa etária.

A Amazon pode dar uma trégua aos varejistas se decidir baixar os preços de seu serviço de nuvem para manter ou expandir sua fatia de mercado num setor de acirrada concorrência. Mas os investidores que esperam uma recuperação das lojas de vestuário podem se perder na nuvem da Amazon.

Fonte: http://br.wsj.com/articles/SB12739813861383313909404582083072494685942