O sucesso atual da Uber talvez não seria uma realidade se Travis Kalanick, CEO da companhia, não tivesse demonstrado um pouco de humildade diante de Tim Cook, o chefão da Apple.

No último domingo, 23, o New York Times publicou uma reportagem sobre Kalanick com base em mais de 50 entrevistas com pessoas no entorno do executivo, incluindo funcionários e ex-funcionários, investidores e até gente que mantém relacionamento pessoal com ele.

E logo na abertura do texto o jornal relata que, no começo de 2015, Tim Cook convocou uma reunião cara a cara com Kalanick para dizer que ele deveria alterar o aplicativo da Uber, do contrário o serviço seria excluído da App Store — que, junto ao Google Play, é responsável por fazer da empresa o que ela é hoje.

Cook fez a ameaça porque, por meses, a Uber vinha camuflando seu aplicativo dos engenheiros da Apple para que eles não descobrissem que a empresa usava um mecanismo que identificava iPhones mesmo depois que o seu app tivesse sido deletado dos aparelhos. Isso acontecia até se o dispositivo tivesse sido restaurado, uma violação grave dos termos de uso da loja do iOS.

A Uber teve a ideia de fazer isso para interromper uma onda de fraudes iniciada em 2014. Em lugares como a China, motoristas compravam iPhones roubados, criavam contas falsas e se registravam junto à Uber; depois, chamavam corridas, que eram aceitas por eles próprios. Como a companhia incentivava a aceitação de mais chamados, essas pessoas conseguiam aumentar seus ganhos sem ter que dirigir tanto.

Quando descobriu o esquema, a Uber criou uma ferramenta chamada “fingerprinting” que identificava iPhones mesmo depois de terem sido restaurados. Como a prática era proibida na App Store, a Uber teve o cuidado de criar uma “cerca virtual” em torno da sede da Apple, em Cupertino, para que engenheiros dali não pudessem ver os códigos que possibilitavam o rastreamento. A Apple só descobriu porque engenheiros fora da área revisaram o app da Uber, o que motivou Cook a dar uma chamada em Kalanick — que, segundo as fontes do NYT, estava “abalado” quando saiu da reunião.

Embora não tenha querido falar com o jornal, a Uber soltou um curto comunicado à imprensa como um todo após a publicação para garantir que não tinha como identificar usuários, e que a técnica empregada “é uma forma muito típica de impedir que fraudadores carreguem o Uber num celular roubado, usem cartões de créditos roubados para fazer uma corrida cara e depois apaguem o telefone repetidamente”.

Mesmo que o rastreamento seja de hardware, e não uma forma de identificação, a Apple ainda proíbe esse tipo de prática em sua loja, conforme destacou o Engadget.

Fonte: Olhar Digital