A pandemia acentuou a transformação digital e comprovou a falta de mão de obra na área (Hinterhaus Productions/Getty Images)

Grupo educacional firma acordos com gigantes do setor de tecnologia para qualificar alunos e mitigar gargalo no mercado de trabalho

A pandemia acelerou a transformação digital no Brasil, o que levou muitas empresas a lidar com um gargalo: a falta de mão de obra na área de Tecnologia da Informação (TI).

Em 2019, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais (Brasscom), chegou a apontar um déficit potencial, anual, de 24 mil profissionais em TI. Segundo o estudo, o número de formados chegava a 46 mil alunos por ano, enquanto a demanda estimada, entre 2019 e 2024, alcançaria aproximadamente 70 mil.

Em entrevista à Bússola, o presidente executivo da Brasscom, Sergio Paulo Gallindo, afirma que a demanda aumentou durante a pandemia de Covid-19 e que as empresas vêm buscando gente em áreas correlatas, como matemática, por exemplo.

A expectativa, este ano, é de 56 mil novos postos de trabalho criados, enquanto a previsão ficava em 36 mil novas vagas em aberto no ano de 2019 e outras 43 mil novas vagas sem preenchimento no ano de 2020. Este último, já considerando a pandemia e em um cenário de dispensa menor, de 30 mil funcionários entre os meses de março, abril e maio do ano passado.

Ou seja: tudo aponta para um mercado aquecido.

Para mitigar o problema, o mercado vem investindo em algumas frentes. A Ambev, por exemplo, criou um hub de inovação e tecnologia, a Ambev Tech, para promover sua transformação digital e cultural. Para atrair novos profissionais, a companhia de bebidas lançou um programa chamado Start Tech, que realiza a formação com contratação imediata.

Outras empresas vêm buscando parcerias com o ensino superior. Uma das instituições mais avançadas nessa frente é o Grupo Ser Educacional, segundo o diretor de Área de Exatas da UNINASSAU, Hesdras Viana. “O que fazemos, com o nosso programa Singular Tech, é ouvir o mercado. Inserimos as principais empresas do mundo dentro da nossa matriz curricular, ou seja, além de ter a inserção de disciplinas conectadas com a necessidade do mercado, os nossos alunos também têm acesso a conteúdo exclusivo de maneira síncrona e assíncrona que as empresas parceiras oferecem”, declara o diretor.

A iniciativa logo gerou interesse do setor. O Google foi a primeira a fechar acordo com o Grupo Ser Educacional. A big tech contribui com uma certificação profissional em Cloud. Com a IBM, o Ser Educacional lançou novos cursos de graduação nas áreas de Inteligência Artificial e Internet das Coisas. “É uma parceria considerada pioneira na América Latina. Estamos aproximando a academia do mercado”, diz Viana.

Uma das parcerias mais recentes da Ser Educacional é com a Oracle. “Nossos alunos têm acesso ao programa Oracle Academy, que inclui todo o conteúdo de banco de dados e desenvolvimento Java com foco na certificação profissional”, explica o coordenador do Singular Tech. “A empresa também faz parte da pós-graduação em banco de dados Oracle, capacitando os futuros Administradores de Banco de Dados”, afirma Viana.

A expectativa da instituição é que a cooperação possa gerar mais frutos: capacitação docente, novos cursos e obtenção de certificado profissional para os alunos, bem como ações conjuntas de responsabilidade social.

Outra parceria relevante é com a Microsoft. Além de ofertar cursos, a big tech criada por Bill Gates vem treinando os professores da Ser para as novas tecnologias. Também fazem parte da lista algumas empresas de referência como Avanade e Accenture — ambas promovem dinâmicas de seleção de talentos.

“O interessante é que antes do Singular tínhamos 73% dos nossos alunos de TI empregados. Hoje, esse número subiu para 91%, com 89% trabalhando na área. E nossos parceiros foram fundamentais para esse resultado. É muito raro um aluno nosso não ser absorvido pelas empresas. Inclusive, as empresas nos procuram porque sabem da qualidade na formação”, diz Viana.

Redução do déficit

A iniciativa pode ajudar a mitigar um problema apontado pela Brasscom, o déficit na qualificação. Segundo a associação, dos 1,2 milhão de alunos esperados para ingressar nas universidades em 2024, apenas 44% são admitidos no mercado. Destes, 45% desistem. Entre os que se formarão em 2024, segundo a projeção, somente 62% deverão ser aproveitados no mercado de trabalho.

Ainda de acordo com a pesquisa da Brasscom, a maior demanda do mercado é por desenvolvedores de projetos para dispositivos móveis, como celulares e tablets, seguido por profissionais que atuam com computação em nuvem (cloud).

Entre as demandas identificadas pela associação está a de desenvolvedores, principalmente em nichos como Java, Full Stack, UX, Design Thinking e Agile.

Diante da demanda, as empresas passaram a admitir talentos para trabalhar a distância. “Os estudantes estão sendo contratados nos locais onde eles estão”, diz o presidente executivo da Brasscom. Isto só foi possível, segundo ele, com o avanço do regime de home office. Inclusive, acrescenta Gallindo, já há recrutamento estrangeiro de brasileiros para posições na área de TI.

A concorrência passou a não ter fronteiras. O desafio da qualificação profissional ficou ainda maior.

Fonte: Exame