São Paulo – A burocracia fiscal ainda é um entrave para a produtividade das empresas brasileiras. Estudos já indicaram que anualmente mais de 2,6 mil horas são gastas com organização e pagamento de impostos.

Este e o próximo ano são ainda mais desafiadores com novas obrigações tributárias e acessórias no âmbito do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED) que devem ser entregues, como ECF (Escritura Contábil Fiscal), e-Social e Bloco K.

Os efeitos da digitalização obrigatória de informações tributárias e fiscais – de empresas e também de contribuintes – chegam ao mercado de trabalho. Para dar conta de entregar todas as demandas no prazo e evitar multas e autuações, profissionais da área de tecnologia da informação estão sendo recrutados para trabalhar na área tributária.

E apesar da reclamação geral no mercado de trabalho em relação às parcas oportunidades disponíveis, Maria Clara Peixoto, gerente de Recursos Humanos da Synchro, especializada em soluções digitais, diz que é difícil atrair profissionais de TI para a área tributária. O fato de o setor de TI continuar aquecido mesmo em tempos de crise, torna ainda mais difícil encontrar profissionais qualificados dispostos a trabalhar com softwares tributários.

“A pessoas que trabalham com TI têm, em geral, um perfil mais arrojado, dinâmico e, muitas vezes consideram a área fiscal/tributária chata ou complicada. Mas, é possível ser inovador nesta área”, diz ela.

Perfil e salário
Os salários na área de TI podem chegar até 20 mil reais, para profissionais muito experientes. Jovens em começo da carreira recebem bem menos: 2,5 mil, em média, segundo Maria Clara. A ascensão de carreira, de acordo com ela, pode ser rápida já que há falta de pessoas qualificadas.

Intraempreendedorismo é a qualidade mais procurada nestes profissionais, segundo a gerente de RH da Synchro. “Precisamos de pessoas que tenham visão de dono da empresa, que queiram ir além de escrever códigos e desejem se envolver no negócio, resolver o problema do cliente”, diz Maria Clara.

Descobrir as necessidades dos clientes, na maioria das vezes profissionais da área de contabilidade, e propor soluções digitais que facilitem o trabalho deles é um dos desafios diários do gerente de TI da Synchro Paulo de Freitas.

Trabalhando com desenvolvimento de software desde 2003, ele “caiu” na área tributária por acaso quando a oportunidade apareceu diante dele. Hoje, diz gostar bastante do trabalho e faz coro para vencer o preconceito dos profissionais de TI em relação à área tributária.
“Muita gente acha que a gente usa tecnologias ultrapassadas, mas não é verdade. Trabalhamos com tecnologia de ponta, em grande parte do tempo”, diz. Trabalho maçante? De jeito nenhum, diz ele. “ Há espaço para inovação e é possível fazer coisas diferentes”, diz.

Ele destaca a capacidade crítica e analítica como qualidades importantes para o trabalho na empresa. Os conhecimentos técnicos necessários não são muito diferentes daqueles exigidos aos desenvolvedores de forma geral. É preciso dominar linguagens e tecnologias como Java, MySQL, HTML, CSS e Javascript. Mas, segundo Freitas, além de MySQL, os profissionais também devem saber outras tecnologias de bancos de dados, de uma forma mais abrangente.

Fonte: Exame