Apesar da alta criação de postos de trabalho, o mercado sofre com a falta de mão de obra qualificada

Ponto de encontro entre os três poderes, é natural que Brasília seja famosa pelas oportunidades de emprego no serviço público. No entanto, alguns moradores da capital optaram por não seguir um caminho tão tradicional. Eles são jovens, inovadores, e acreditam que a tecnologia pode oferecer soluções práticas em mundo globalizado. São os empreendedores da tecnologia da informação.

No Distrito Federal, este setor está em alta. Em plena pandemia de Covid-19, foram abertas 2 mil empresas de informática e de tecnologia da informação, totalizando 11.341 negócios. Os dados são do Sindicato das Empresas de Serviços de Informática do Distrito Federal (Sindesei-DF). De acordo com a entidade, o aumento do uso de tecnologias durante a crise sanitária gerou um faturamento de, aproximadamente, R$ 1,3 bilhão para o setor.

Uma das protagonistas dessa cena é a empreendedora tecnológica na área de educação Nathalia Kelday, 32 anos. A profissional, já com experiência em abrir startups, agora lança um projeto que junta educação e tecnologia. A Edstation School é um programa de aceleração de 18 semanas para estudantes dos 7º e 8º ano do ensino fundamental se aventurarem nas técnicas do século XXI.

“Buscamos, desde o primeiro momento, instigar qual o papel deles no mundo, qual o objetivo deles, e a se enxergarem como cidadãos do mundo”, explica Nathalia. A educação tecnológica dos jovens é ainda mais importante num contexto em que a abertura das novas empresas é maior que a oferta de profissionais qualificados para ocupar as vagas de emprego.

Atualmente, o Brasil tem um deficit de 150 mil vagas de tecnologia da informação não preenchidas e se estima que, em 2024, este gap será ainda maior. Levantamento da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom) apontou que a procura por profissionais na área de TI será de 420 mil pessoas, até 2024. Porém, o Brasil ainda forma apenas 46 mil profissionais com perfil tecnológico por ano.

Para Nathalia, Brasília tem uma vocação tecnológica ainda não explorada. “Não temos grandes territórios como as outras unidades da federação para explorar a agricultura, os próprios políticos já estão investindo em parques de tecnologia”, comenta. Ela alerta, ainda, para a extinção de empregos de mão de obra não qualificada nos próximos anos.

Pandemia

Segundo especialistas, a pandemia de Covid-19 acelerou o processo de transformação tecnológica. Conforme explica o coordenador dos cursos de pós-graduação em Inteligência Artificial e pós-graduação em Aplicativos Móveis do Centro Universitário IESB, Alexandre Loureiro, o mundo, e Brasília, assistem a criação de novas formas de trabalho.

“Com o home office, as pessoas trabalham em casa, o que diminui o vínculo físico com a empresa, quase eliminando o vínculo. Da mesma forma que um profissional faz home office para uma empresa no Brasil ele pode trabalhar para qualquer empresa do mundo”, explicou Loureiro. No entanto, professor alerta para o que chama de apagão de profissionais de tecnologia da informação.

“Existe uma grande chance de um colapso nas áreas de TI e inovação no período pós-pandemia, mas não pela falta de vagas, e sim pela falta de mão de obra qualificada”, sintetizou. Essa é a mesma análise que faz o especialista em inovação digital pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), Diego Rhoger, 37 anos.

Para especialistas, capital tem potencial tecnológico não explorado
Com poucos anos de estudo, é possível ganhar bem na área de tecnologia da informação

Rhoger é CEO de uma aceleradora chamada Polymath, cujo objetivo é prestar consultoria a empresas que querem promover internamente a transformação digital. “Fazemos a parte de tecnologia aliado ao marketing digital, tenho vários cases de empresas da capital”, conta. Apesar do mercado superaquecido, ele conta que sente um déficit muito grande de profissionais de tecnologia em Brasília.

“Presto consultoria nessa área, como ajudamos na transformação digital, sempre recrutamos muita mão de obra. Além disso, estou envolvido em outros ecossistemas, o movimento de tecnologia está grande no mundo inteiro, não só em Brasília, mas aqui tem uma particularidade, a cidade é muita voltada para o serviço público”, resume o CEO.

Para o especialista, ao focar exclusivamente no serviço público, a população do Distrito Federal pode estar perdendo a oportunidade de ganhar dinheiro. “As pessoas não percebem a oportunidade, ficam lutando pra entrar num mercado [que paga] R$ 5 ou R$ 6 mil por mês. Pra você ter uma ideia, um desenvolvedor sênior ganha entre R$ 18 a R$ 24 mil reais por mês”, argumentou.

Como entrar no mercado

Ainda segundo Diego Rhoger, não é preciso estudar por longos anos para se dar bem na área. “Em dois anos de dedicação na área de programação, a pessoa que quer entrar tem acesso a empregos acima de R$ 10 mil por mês”, garante. Já segundo o professor Loureiro, para aproveitar este cenário, a solução está em se preparar o quanto antes.

Segundo ele, além da formação, os profissionais de TI devem ter habilidades importantes, como adaptação ao cenário de home office, facilidade de liderança, conexão de ideias, além de criar um planejamento de carreira e investir em treinamentos constantes.

“É muito importante que o interessado procure um curso com uma grade de disciplinas focadas nas principais demandas atuais, como inteligência artificial, ciência de dados ou desenvolvedor de aplicativos. Cursos de curta duração, 14 meses no máximo, com foco em aulas práticas, também são fundamentais para aqueles que buscam se especializar na área”, explica o professor.

Para oferecer mais dicas sobre como se capacitar em TI de forma rápida e eficiente, o Centro Universitário IESB realiza uma live especial sobre o tema, no dia 12 de maio, às 19h30. O evento é aberto ao público e será mediado pelo professor Alexandre Loureiro.

Fonte: https://www.metropoles.com/distrito-federal/capital-tecnologica-df-abriu-2-mil-empresas-de-ti-durante-a-pandemia