Daniel Kriger, CEO, e Ugo Roveda, COO da Kenzie Academy. Foto: Divulgação

Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de desempregados no Brasil é de 14,8 milhões. Entretanto, há quem diga que o mercado carece de candidatos com boas qualificações. A Kenzie Academy quer preparar profissionais de tecnologia de uma forma diferente, fomentando o setor que está em amplo crescimento.

Com menos de dois anos de operação no Brasil, a Kenzie atua com a profissionalização de candidatos a programadores, um segmento que cada vez mais demanda profissionais.

Tudo isso com ensino à distância e alinhando interesses com os alunos.

Em entrevista ao Suno Notícias, Daniel Kriger, CEO da Kenzie, afirmou que ao trabalhar como executivo de negócios da Positivo (POSI3), percebeu a dificuldade de startups de tecnologia em conseguirem bons profissionais.

Com isso, trouxe o modelo da Kenzie nos Estados Unidos para cá. Iniciadas no ano passado, as duas primeiras turmas da Kenzie já se formaram e estão no mercado. Foram cerca de 300 alunos — a expectativa é terminar esse ano com mil estudantes ativos, mais do que triplicando a base.

edtech se apoia em dados da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), que diz que a procura por profissionais na área de TI no Brasil será de 420 mil pessoas até 2024.

Entretanto, o Brasil forma apenas 46 mil profissionais por ano. A estimativa atual é que cerca de 150 mil vagas estarão sem ocupação daqui três anos.

“Um agravante disso é olhar para o mercado brasileiro, com um número de desempregados altíssimo, com pessoas ganhando pouco. Isso contrasta com o segmento de tecnologia, que vem crescendo e contratando muita gente”, diz Kriger.

Alinhamento de interesses

A empresa vende cursos que duram um ano inteiro, preparando interessados no mercado de tecnologia para ingressarem no mercado de trabalho.

“O ensino é intensivo e imersivo, muito diferente do ensino tradicional, com pouca prática. Nós somos o inverso disso”, comenta o CEO da Kenzie. “A aula é uma parte pequena do dia do aluno, que passa a maior parte do tempo produzindo e entregando projetos.”

Na visão da empresa, em áreas técnicas, a prática é o que funciona. “Na parte de programação não é diferente: não adianta assistir aulas e ler livros infindáveis. Colocar a mão na massa é o mais importante.”

O alinhamento de interesses, o qual a startup diz ser um dos seus diferenciais, se refere à forma de pagamento pelos alunos.

Os candidatos estudam por um ano na escola, e assim que conseguirem entrar no mercado de trabalho e estiverem ganhando acima de R$ 3 mil mensais, usam uma parcela dessa remuneração para pagar o curso já realizado.

“Temos todo o incentivo para preparar ele bem, para que ele consiga se formar, conseguir um emprego e ser nossa fonte de receita“, comenta. “Só ganharemos se nossos alunos ganharem. Cerca de 90% deles aderem a essa proposta.”

Caso dê tudo errado…

Se após o curso o aluno não conseguir emprego, ou não tiver renda acima de R$ 3 mil, depois de 60 meses o contrato se extingue. Ou seja, para os alunos, o risco é limitado ao prazo de cinco anos após a formatura.

Segundo a própria empresa, a maior parte dos alunos, quando batem à porta da Kenzie, estão desempregados ou recebendo salários muito baixos. “Eles não têm nada a perder.”

Além disso, a Kenzie tem como parceiro a Provi, empresa especializada em crédito educacional. O negócio da startup fundada em 2018 gira em torno de ajudar escolas de todos os tipos a escalarem suas operações, inclusive de programação.

“Ela nos ajuda a fazer todo o trabalho junto aos alunos, como análise de crédito, risco e contrato e algo parecido como antecipação de recebíveis“, comentou Kriger ao Suno Notícias. 

Parte dos gastos operacionais também são custeados pela Provi, o que ajudou a Kenzie a crescer e iniciar seus trabalhos sem queimar muito caixa, uma vez que o modelo de negócio prevê a geração de receita após a prestação do serviço.

Upside chama atenção de concorrentes da Kenzie

Com um oceano azul pela frente, a Kenzie não navega sozinha. O potencial de crescimento do mercado, que ainda é majoritariamente tradicional e demanda essa disrupção, ainda mais com as mudanças trazidas pela pandemia, é alto.

Na visão da empresa, existem duas linhas de concorrentes.

A primeira diz respeito às faculdades maiores, que também têm cursos voltados para tecnologia. Gigantes como YUDQS (YDUQ3) e Cogna (COGN3), por exemplo, também estão investindo em um modelo de educação asset light.

Do outro lado, a empresa também considera plataformas como Udemy e Alura como concorrentes. Essas são como streamings de educação.

Que correm ao lado, disputando de forma direta, a Kenzie enxerga Resilia Educação (que recentemente recebeu um aporte da XP), Trybe e BYJU’S Future School, que chegou ao Brasil neste ano.

“Nosso diferencial frente ao mercado tradicional é visto na tentativa de atualizar o ensino, que hoje não é voltado para a prática e, principalmente, que não tem alinhamento de interesse com os alunos”, diz Kriger.

Segundo dados internos da empresa, das concorrentes diretas, a Kenzie tem a maior taxa de empregabilidade, com 98% após completo um mês da formatura. A Trybe promete 96% de empregabilidade depois de três meses da formatura. A Resilia tem uma taxa de 84% cerca de 60 dias após a conclusão do curso.

Das duas turmas formadas pela Kenzie, a de janeiro de 2020 e abril de 2020, 98% dos alunos já estão empregados, sendo que a maior parte deles já está ganhando acima de R$ 3 mil.

Riscos clássicos de uma startup

Quando questionado sobre os riscos da Kenzie, o executivo diz que o mais claro diz respeito ao crédito, fazendo com que a inadimplência tenha de ficar no radar.

“Trata-se de um produto novo no mercado, então não temos muita noção de como será o comportamento neste aspecto.”

A empresa tem o Pravaler, que é especializada em crédito para faculdades, como um benchmark a ser seguido.

A plataforma digital opera como um “Fies do setor privado” e tem uma inadimplência considerada baixa, na casa de um dígito, segundo a Kenzie. Essa é a meta da edtech.

Outro risco se refere ao desaquecimento do mercado de tecnologia, por mais que a chance deste ponto ser materializado seja muito pequeno, segundo Kriger. 

Ademais, existe o risco de execução, como em qualquer startup. “No nosso caso, o risco gira em torno de não conseguirmos formar os melhores profissionais para colocá-los no mercado de trabalho e, consequentemente, não termos receita.”

Recentemente, a empresa recebeu um aporte de R$ 8 milhões, que servirá para “aumentar sua musculatura, além de investir em tecnologia e produto”. Uma rodada de investimentos série A está no pipeline para os próximos meses, embora o foco da Kenzie esteja totalmente voltado para o crescimento da operação nos próximos 18 meses.

Fonte: https://www.suno.com.br/noticias/kenzie-academy-startup-ensino-tecnologia/