Você vai se surpreender com o que vai acontecer com o mercado brasileiro de TI nos próximos anos. Uma pesquisa realizada pela Advance Consulting aponta mudanças drásticas para quem vende produtos e serviços de TI. O levantamento apresenta, como peça central desse movimento, o desenvolvimento de software. Para entender um pouco melhor o cenário que se desenha, vamos analisar quatro grandes vetores.

O vetor número um toca o modelo de negócios das revendas, integradores e VARs. A venda de hardware, há anos, passa por erosão de preços e margens, sendo um dos segmentos mais drasticamente afetado pela crise nos últimos dois anos. Da mesma forma, a venda de software passa por um período de transição do “local” para a “nuvem”, alterando o fluxo de caixa e reduzindo margens. Serviços é um ponto intrinsecamente atrelado a esses dois mundos (hardware e software) e, portanto, sofre com as mudanças dos dois atores.

O vetor de número três mostra que software passa a ser parte do coração, do pulmão e do cérebro das empresas. Nos próximos anos teremos uma necessidade gigantes de desenvolvimento de aplicações para suportar as empresas e os negócios.

Acontece que o Brasil, nos últimos cinco anos, vem acenando com o “apagão dos desenvolvedores”, ou seja, que o número de profissionais é insuficiente para atender a demanda atual e, obviamente, futura.

De um lado criamos metodologias e processos para que o desenvolvedor fosse cada vez mais eficiente. Chegamos a aplicar conceitos de “fábrica” para aumentar a produção. Mas de outro lado o desenvolvimento de software ficou cada vez mais complexo. As ferramentas passaram a exigir um grau de conhecimento muito grande e os ambientes estão cada vez mais heterogêneos.

Lembro da época do Clipper e do Visual Basic 1.0, quando era muito fácil aprender a linguagem de desenvolvimento e sair fazendo “programinhas” que salvavam a vida dos usuários, automatizando tarefas até mesmo bastante complexas. Naquela época muitos “homens de negócio” aprenderam estas ferramentas de desenvolvimento e fizeram seus próprios aplicativos.

O vetor de número quatro mostra uma mudança de paradigma no desenvolvimento de software. Surgem várias empresas oferecendo “plataformas de desenvolvimento de software” onde o usuário consegue desenvolver um aplicativo de maneira muito acelerada. Em algumas destas ferramentas o usuário não precisa saber codificar ou programar.

Esta mudança de paradigma permitirá que as revendas, integradores e VARs desenvolvam software de maneira fácil e rápida para oferecer na nuvem. Esta mudança de paradigma permitirá que ISVs e empresas de projetos desenvolvam de maneira muito mais rápida e com profissionais mais baratos. Esta mudança de paradigma será uma grande alternativa para resolver o problema de apagão da mão de obra para desenvolvimento de software.

Nos últimos 15 anos, a indústria de software desenvolveu sistemas complexos como os de gestão empresarial, os CRMs, os sistemas de inteligência de negócios (BI) entre outros. É claro que esta nova forma de desenvolvimento de aplicativos não serve nem pretende substituir este tipo de desenvolvimento. Mas esta nova forma de desenvolvimento trará uma agilidade gigantesca para que o mundo dos negócios converta suas inúmeras planilhas em sistemas.

Acho que veremos o nascimento de uma nova era para o desenvolvimento de software, para as revendas, integradores, VARs, ISVs, empresas de projetos e, principalmente, para os clientes que se beneficiarão de ter atendidas suas necessidades de maneira rápida.

Percebendo isso, algumas revendas, integradores e VARs resolveram evoluir seu modelo de negócios a incluir software desenvolvido “dentro de casa” para compor a carteira de ofertas “cloud” e obter excelentes margens de lucro. Esta é uma evolução do modelo de negócios que faz muito sentido face ao crescimento da demanda por esse tipo de solução e face a simplificação do desenvolvimento de software.

O vetor número dois mostra que o modelo de negócios das empresas que atuam com projetos de tecnologia está mudando. Estas companhias desenvolviam software sob medida e, nos últimos anos, perceberam que para aumentar sua produtividade e margem de lucro precisavam se preocupar com o reuse do código.

Vários desses canais chegaram a pensar em criar pacotes ou soluções para oferecer ao mercado o que seria um modelo de negócios das empresas designadas como ISVs (desenvolvedores independentes de software).

O curioso é que, no Brasil e diferente de outros países, a maioria dos ISVs nunca foi “puro”, ou seja, sempre fez, também, desenvolvimento de software sob medida como forma de aumentar o seu faturamento. Claro que este modelo híbrido não foi eficaz, já que a criação de sistemas sob medida apresentava margens menores e ainda desfocava o ISV do seu objetivo maior, que seria a venda em alta escala.

A popularização da nuvem mostrou, tanto para os ISVs quanto para as empresas de projetos, a possibilidade de uma venda de soluções ou pacotes em alta escala. Então surge uma grande corrida para disponibilizar e comercializar soluções cloud, o que passa a ser extremamente mais fácil em decorrência da simplificação do desenvolvimento de software.

Fonte: ComputerWorld